Em nosso último artigo sobre a manutenção em AVAC-R, abordou-se a importância de se olhar com critérios para o planejamento das atividades, ou melhor, para a forma de se planejar a manutenção em ativos e sistemas prediais, com vistas à preservar a sua função prevista em projeto.
Além da preocupação acima, deve-se também cuidar para que esforços e recursos sejam devidamente direcionados, uma vez que não se detém uma quantidade infinita destes recursos, sejam estes humanos ou materiais, para se atender as demandas técnicas e operacionais em uma edificação.
Em uma operação ou contrato, existem esforços aplicados para o atendimento às demandas rotineiras e recorrentes, além de esforços inerentes a execução de atividades planejadas de manutenção. Estas demandas podem ser classificadas em:
Demandas recorrentes de operação | Demandas planejadas de manutenção |
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Onde:
(1) Rondas para a tomada de leituras, sendo recomendável que se estruture o uso de IoT em sua operação (dashboards e marcadores na nuvem, gêmeo digital, etc)
(2) Atividades que envolvem desligamentos ou acionamentos locais de máquinas e sistemas, assim como da realização de manobras no campo
(3) Atividades de manutenção preventiva, preditiva, prescritiva, detectiva, proativa, corretiva planejada e corretiva não planejada
Organizando as demandas em operação
No quesito operação, caberá ao gestor organizar estas demandas através de um planejamento efetivo e pela definição de níveis de prioridade para atendimentos, levando em consideração a criticidade de ativos e também de processos ou áreas.
O planejamento efetivo envolverá a revisão de tarefas que envolvam rondas periódicas (inspeção e leitura) e atividades de operação, na qual devem ser questionadas a necessidade de sua execução e a frequência com a qual ocorrem.
Importante ressaltar que toda a atividade deve ser estruturada de forma à atender objetivos específicos, sendo importante não despendermos tempo e recursos com atividades que não tragam resultados para a nossa área ou departamento.
No que se refere ao quesito atendimento, deve-se estruturar um sistema de priorização baseado em 3 (três) condições principais, sendo estas:
- A importância do ativo (equipamento ou sistema) para o processo ou instituição
- A relevância do processo ou área para a qual o ativo desempenha a função
- A possibilidade de risco iminente (pessoas, meio ambiente e patrimônio)
Vejam, como exemplo, que um sistema de condicionamento de ar ou ventilação que atenda uma área de circulação ou backoffice não deverá possuir uma mesma classificação de importância em relação a outro equipamento similar, que atue para a climatização de um centro cirúrgico, de um CPD ou área da presidência.
Notem também que um sistema que possua equipamentos reservas implantados e em condição de operar no modo de contingência poderá não ser avaliado com a mesma condição crítica de atenção em relação a outro sistema que opere sem qualquer dispositivo ou condição que lhe proporcione uma operação ininterrupta.
Para ambos os casos, o profissional de planejamento deverá organizar as informações listadas acima e estruturar a sua matriz de decisão, lembrando que a aplicação de uma matriz ou algoritmo de decisão deve ser feita pela equipe envolvida no projeto, e não, por um único indivíduo ou profissional (conceito de confiabilidade).
Uma vez definidos os pontos críticos que direcionarão os cuidados e a atuação das equipes de operação em um contrato, tais condições precisarão ser identificadas, avaliadas e consideradas em um “script” de atendimento a ser elaborado.
Deve-se, portanto, considerar como cuidados a serem tomados pelo seu planejador:
- O cadastramento de áreas ou espaços na edificação / no empreendimento
- O cadastramento detalhado de sistemas, ativos de manutenção e demais componentes
- O mapeamento de processos ou atividades atendidas por estes sistemas / equipamentos, considerando a sua importância para o Cliente e instituição
- A construção de uma matriz lógica de decisão, o que lhes permitirá a definição de forma estruturada, quanto ao nível de criticidade dos ativos para o processo de atendimento
- O estabelecimento de tempos admissíveis para o atendimento às solicitações emitidas para estes ativos
- A organização destas condições em um “script” de atendimento
- A conscientização de todos os envolvidos
Definindo a estratégia de manutenção em função da criticidade do ativo
No que se refere ao melhor direcionamento de recursos para a execução de manutenção em ativos, será também importante separar o “joio do trigo”, ou melhor, identificar os ativos com maior criticidade funcional para que recebam cuidados diferenciados em suas atividades programadas de manutenção.
A definição destes níveis de criticidade deverá ser estruturada com base no impacto que o ativo promoverá ao processo e/ou edificação quando da eventual ocorrência de uma falha, assim como sobre parâmetros que demonstrem níveis de confiabilidade (tempos de parada) e de manutenibilidade (tempos médios entre falhas ocorridas e tempos médios para o reparo) destes ativos.
Fatores ou dimensões
de avaliação |
Critérios de Avaliação | |||
A | B | C | ||
SMA | Segurança e meio ambiente | Alto risco de acidentes ou contaminação em caso de falha | Risco moderado de acidentes ou contaminação em caso de falha | Não há risco de acidente ou contaminação em caso de falha |
QE | Qualidade na entrega (1) | Queda de qualidade na produção do ativo, em caso de falha | Pode ocorrer queda de qualidade em caso de falhas, ou mesmo a ocorrência de queda de qualidade com baixo impacto | Não haverá queda de qualidade em caso de falha |
CO | Condição de operação | Tempo de operação do ativo acima de 90% das horas previstas, ao mês | Tempo de operação do ativo entre 50% e 90% das horas previstas, ao mês | Tempo de operação do ativo inferior a 50% das horas previstas, ao mês |
CP | Condição para o processo (2) | Afetará diretamente o processo para o qual o ativo atua, sem uma alternativa de contingência no curto prazo | Com possibilidade de afetar o processo para o qual atua, sendo que existem alternativas possíveis de contingenciamento na instalação | Não afetará o processo no qual o ativo está inserido |
IP | Índice de paradas (3) | MTFB(4) abaixo de 15 horas | MTFB(4) entre 15 e 30 horas | MTFB(4) acima de 30 horas |
MT | Manutenibilidade | MTTR(5) acima de 2 horas | MTTR(5) entre 1 e 2 horas | MTTR(5) abaixo de 1 hora |
Onde:
(1) Refere-se a qualidade entregue pelo ativo para o processo ou edificação, ou melhor, oscilações na qualidade produzida pelo ativo em caso de falha (controle de temperatura, vazão, pressão ou diferencial de pressão, entre outros;
(2) Denomina-se como “condição para o processo” o impacto direto sobre o processo no qual o ativo ou equipamento estiver inserido. Vejam, como exemplo, um sistema de pressurização de escadas de emergência que conte com apenas um ventilador para a pressurização, sendo que o processo será plenamente interrompido em caso de falha de seu ativo;
(3) Índice de paradas ou “confiabilidade” refere-se ao indicador histórico registrado que reflita a o tempo médio entre falhas ocorridas (requer um registro confiável neste aspecto, através de um CMMS1);
(4) MTBF é a sigla em inglês para o indicador “Tempo Médio Entre Falhas” ou “TMEF”, em português. Trata-se de um indicador classe mundial de manutenção;
(5) MTTR é a sigla em inglês para o indicador “Tempo Médio Para Reparos” ou “TMPR” em português. Trata-se de outro indicador classe mundial de manutenção.
O grupo de técnicos envolvidos no projeto deverá avaliar em conjunto os quesitos na tabela acima, para cada ativo ou equipamento estudado / analisado. A escolha da estratégia mais adequada para a manutenção minimizará a probabilidade de falhas e assegurará um maior nível de confiabilidade para a operação de seu ativo, além de direcionar melhor e de forma mais otimizada os recursos envolvidos.
Entretanto, isto requererá com que tenha implantado um sistema informatizado de gestão (CMMS) adequadamente implantado e confiável em suas informações e registros. Lembre-se de que, quanto maior o nível de confiabilidade em sua manutenção, menor será a probabilidade de falha na instalação, assim como menor será a indisponibilidade de sistemas.
A tabela acima poderá ser ainda representada por um algoritmo conforme a ilustração a seguir:
Modelo de algoritmo de criticidade
Existem ainda outros métodos para a determinação da criticidade funcional de equipamentos, sendo que estes demandarão por um processo de planejamento e controle histórico mais apurado e estabelecido, além do conhecimento sobre metodologias e critérios de planejamento.
O exemplo acima resume uma das formas estruturadas para se definir a criticidade funcional de um ativo de manutenção, o que permitirá ao planejador direcionar os recursos disponíveis. Importante destacar que a escolha da mais adequada estratégia de manutenção para o ativo contribuirá para a confiabilidade em sistemas, maior índice de disponibilidade de equipamentos e sistemas, assim como para se assegurar o cumprimento, ou melhor, a manutenção de sua função ao longo de sua vida útil de projeto.
As estratégias A, M e B podem corresponder, respectivamente:
Classificação | Estratégia | |
A | ALTA |
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M | MÉDIA |
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B | BAIXA |
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Isto requererá a estruturação de um bom processo de planejamento em sua manutenção, assim como da adequada seleção da ferramenta de gestão (CMMS) e a sua customização com base nas premissas / estratégias de planejamento.
Observa-se também a importância em se definir as responsabilidades para as equipes de manutenção no empreendimento ou contrato, pois estas deverão ser treinadas e assegurar o adequado e confiável registro de ocorrências e atividades de manutenção nas respectivas ordens de serviço.
A baixa confiabilidade em históricos de manutenção distorcerá as análises ao prejudicar os indicadores eventualmente escolhidos dentro de sua estratégia de gestão.
Os recursos e orientações aqui apresentadas complementam os cuidados já abordados no artigo publicado na edição anterior, para que se assegure a preservação da função de um ativo, equipamento ou sistema, ao longo toda a sua vida útil produtiva.
Por Alexandre M. F. Lara
Diretor técnico na A&F Partners Consulting