Quando não há coordenação e entrosamento entre o arquiteto e os profissionais que elaboram os projetos complementares, pode ocorrer uma incompatibilidade entre eles. No caso de um projeto de hidráulica, isso aparecerá durante a execução da obra, gerando improvisações.
Para tratar do assunto, o engenheiro Roberto de Carvalho Júnior, projetista de instalações prediais, pós-graduado em didática do ensino superior e mestre em arquitetura e urbanismo, está lançando o livro “Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura”, que aborda as principais interferências e interfaces das instalações hidráulicas prediais com o projeto arquitetônico. Leia a seguir a entrevista exclusiva com o especialista.
Por que surgiu a ideia de lançar o livro “Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura”?
A área de instalações prediais é carente de bibliografia que atenda às necessidades do aprendizado acadêmico, e até mesmo dos profissionais, no que se refere às interfaces físicas e funcionais da arquitetura com as instalações. Por isso, observando e resolvendo problemas desse tipo, resolvemos elaborar o livro, que aborda as principais interfaces das instalações hidráulicas prediais com a arquitetura. Apresenta noções básicas e uma visão simplificada dos vários subsistemas das instalações prediais voltadas para o arquiteto, designer ou estudante de arquitetura, a fim de que possam antecipar as soluções das interfaces e desenvolver projetos harmonizados com as instalações.
Como compatibilizar o projeto de arquitetura com os de instalações?
O projeto arquitetônico deve definir a localização dos equipamentos, tendo em vista suas características funcionais, e compatibilizá-lo com os projetos de estrutura, fundações, instalações e outros. Essa é condição básica para a integração entre os vários subsistemas construtivos. O projeto de instalações prediais integrado aos demais permitirá fácil operação e manutenção na fase de uso do edifício. Essa compatibilização entre os vários subsistemas envolvidos na construção do edifício, evita improvisações durante a obra.
Quais os outros assuntos tratados no livro?
Outra preocupação foi a de elencar as normas brasileiras que regem cada assunto tratado. Valemo-nos de uma extensa bibliografia e, principalmente, da experiência conquistada no decorrer dos anos, como projetista de instalações e professor em curso de graduação na área de Arquitetura e Urbanismo. O trabalho não tem por objetivo formar especialistas em instalações e, portanto, não conta com informações sobre cálculos e dimensionamentos.
Qual a situação das instalações prediais no país?
A maior parte das instalações prediais não está dentro dos padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Como a Lei da Gravidade é gratuita, grande parte dos empreiteiros e construtores não pensa duas vezes e coloca as tubulações de tudo quanto é jeito. Isso sem levar em consideração alguns conceitos importantes, tais como as declividades mínimas para o escoamento do esgoto e das águas pluviais. Outro exemplo são as tubulações de água potável, projetadas e/ou executadas sem considerar a melhor forma para sua distribuição e uso racional da água, negligenciando também as pressões ideais para um bom funcionamento dos aparelhos sanitários.
Quais os erros mais comuns cometidos por construtores e instaladores?
Além desse descaso, muitos encanadores e construtores fazem confusão entre os conceitos de pressão e vazão. Alguns acreditam que a pressão na rede de distribuição e nos pontos de utilização de água depende do tamanho do reservatório, sendo que a pressão depende exclusivamente da altura (pressão estática) e do percurso que a água percorre (pressão dinâmica). Portanto, o volume do reservatório não determina o aumento ou diminuição das pressões. Quanto mais alto for o reservatório, maior será a pressão na rede e nos pontos de utilização de água.
E quanto ao posicionamento dos reservatórios, quais os problemas encontrados?
Além de mal dimensionados, também se comete muitos equívocos com relação ao posicionamento desses reservatórios. A posição ideal quando não existem barreiras arquitetônica e estrutural, deve ser tal que fique o mais próximo possível dos pontos de consumo. Isso se deve a dois fatores: perda de carga e economia.
Em que consiste a perda de carga?
A perda de carga numa canalização é a diferença de energia inicial e a energia final de um liquido, quando ele flui de um ponto ao outro. Essas perdas poderão ser distribuídas (ocasionadas pelo movimento da água na tubulação) e localizadas (ocasionadas pelas conexões, válvulas, registros, etc.). Portanto, quando se coloca tubulações e conexões de forma aleatória essa perda de carga aumenta, ocasionando uma diminuição das pressões nos pontos de utilização de água.
O que deve ser feito para evitar isso?
Como se sabe, todos os equipamentos de utilização de água (torneiras, chuveiros, entre outros) necessitam de uma pressão mínima para funcionarem satisfatoriamente. Quando esse parâmetro não é atendido alguns aparelhos não funcionam bem como, por exemplo, as duchas e os chuveiros elétricos. Isso acaba comprometendo o conforto do usuário, principalmente, na hora do banho. Por isso, é preciso muito cuidado na hora de construir. Às vezes, o barato sai caro. Além do desconforto e das dores de cabeça, os prejuízos são enormes com os futuros vazamentos e entupimentos dessas redes e ramais de água e esgoto.