Arquitetos e Designers Precisam ser Empreendedores

Postado em Gestão ,     Escrito por Coordenadora: Arq. MSc. Daniela Corcuera, LEED AP, Especialista AQUA, EDGE Expert & Auditor, USGBC ProReviewer e Coach    em público maio 27, 2015

O mercado de arquitetura e design mudou muito nos últimos anos. O incremento de uso de tecnologia nos projetos e a conectividade entre profissionais, clientes e fornecedores são alguns dos fatores que vêm transformando o setor. Paralelamente, há cada vez menos vagas para arquitetos e designers dentro das empresas, o que tem obrigado esses profissionais a abrir os seus escritórios. Aí começa outro problema, já que nem todos sabem gerir o próprio negócio, de acordo com arquiteta Daniela Corcuera. Veja, na entrevista a seguir, o que pode ser feito para driblar esse tipo de deficiência e criar empreendimentos de sucesso.

AEA – Quais foram as principais mudanças ocorridas no setor de arquitetura e design nos últimos anos?

Daniela Corcuera – Ocorreram muitas, como a substituição das pranchetas por computadores. As relações de trabalho também mudaram, ficando muito mais circunstanciais e menos perenes.  As exigências dos clientes quanto ao conhecimento dos profissionais e a velocidade de retorno e da produção também sofreram alterações. Como consequência, os profissionais passaram a ser mais exigidos no que diz respeito à produtividade e à eficiência.

AEA – Entre essas mudanças está também a escassez de vagas para arquitetos e designers como funcionários, seja dentro de empresas públicas ou privadas. Por quê?

Daniela – Nas ultimas décadas pudemos observar a redução do porte dos escritórios de arquitetura, o crescimento do número de pequenos escritórios e de profissionais trabalhando de forma independente. Acredito que houve um pequeno crescimento em função do aquecimento da economia, mas nada significativo. Cada vez mais os profissionais saem das faculdades de arquitetura e design e, não sendo absorvidos pelas empresas, são impulsionados a seguir a carreira de profissional liberal ou em pequenas sociedades. Também graças à tecnologia, à conectividade e à mobilidade, montam-se equipes de profissionais associados para atender a um determinado projeto, sem vislumbrar a longevidade dessa conexão.

AEA – Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais recém-formados para montar negócios duradouros?

Daniela – As maiores dificuldades passam pela falta de visão de que a atuação profissional é um negócio.  O profissional, às vezes, faz investimentos altos em reforma para ter um escritório bonito, bem montado, com equipamentos, móveis, e não considera que o tempo de retorno desse investimento pode ser longo demais para ser suportado pelo próprio negócio. Muitos não consideram que criar uma carteira de clientes leva tempo e não depende apenas de abrir um estabelecimento. A sazonalidade e a falta de clientes e de maturidade profissional podem minar rapidamente um escritório recém-estabelecido. Nem sempre o profissional contabiliza corretamente os custos e, consequentemente, não sabe como estipular preços dos serviços. Além disso, não considera a necessidade de um capital de giro para se estruturar de forma saudável e com longevidade.

AEA – Para contornar essas falhas todas, o que pode ser feito pelos futuros empreendedores da área, entre a saída da faculdade e a criação do próprio negócio?

Daniela – Penso que as faculdades pecam por não ter uma disciplina sobre gestão de negócios e empreendedorismo. O profissional sai treinado para projetar e solucionar espaços, mas não para administrar sua profissão ou seu negócio.  Por isso, antes de montar o escritório, é preciso avaliar bem as possibilidades e definir a maneira como esse empreendimento será formado e consolidado, minimizando as chances de tropeços e fracassos. É preciso entender os pontos fortes e fracos pessoais e do mercado para então definir uma estratégia de ação. Há muitos arquitetos e designers que têm características empreendedoras, porém estão adormecidas porque não foram trazidas à tona.

AEA – Quais seriam essas características – ou quais as mais importantes?

Daniela – Acho que qualquer pessoa pode montar o seu negócio se gostar de empreender, liderar e negociar.  Disciplina e perseverança são outros pontos-chave para o sucesso profissional.

AEA – Como essas características podem ser estimuladas?

Daniela – Há cursos que oferecem uma boa visão de negócio e noções de empreendedorismo.  É possível também recorrer a livros e publicações sobre o assunto.  O intercâmbio de experiências entre profissionais é outra excelente ferramenta para encurtar alguns caminhos e evitar desfechos desagradáveis para os negócios criados por esses profissionais.

AEA – Pode se imaginar que ter características empreendedoras e montar um negócio corretamente não são medidas suficientes para garantir o sucesso. Como é a concorrência nesse mercado?

Daniela – Tremenda.  Mas o que mais choca é que a maioria dos profissionais concorre somente quanto a preço e não explora os seus diferenciais.

AEA – Existem estratégias específicas para a conquista dos primeiros clientes?

Daniela – Sim, existem vários segredos, normalmente explorados nos cursos sobre o assunto. Uma das coisas mais importantes é despertar e desenvolver a confiança do cliente.

AEA – Depois que o escritório começa a deslanchar, com clientes, funcionários etc, quais os problemas mais comuns que ainda podem colocar em risco o negócio?

Daniela – O difícil do sucesso é continuar a ser um sucesso.  É preciso sempre olhar à frente, buscando novos nichos de atuação e diferenciais para não ser surpreendido por mudanças do mercado ou tragado pela concorrência.

AEA – Entre os arquitetos e designers de interior quem tem mais dificuldade na hora de montar e gerir o próprio escritório?

Daniela – Acho que ambos têm o mesmo tipo de dificuldades, mas como a profissão do designer tem um reconhecimento recente, esse profissional tem ainda mais preconceitos a quebrar para conseguir ter uma posição sólida no mercado.

AEA – É muito diferente do que acontece com os engenheiros?

Daniela – De certa forma, é diferente do que acontece com a maioria dos engenheiros, que encontram mais demandas dentro das empresas.  Isso se deve à falta de valorização no Brasil do projeto de arquitetura e da compreensão de que se trata de simples planejamento mais do que puros “desenhos”.  Também há falta de informação por parte da sociedade sobre a importância da atuação do arquiteto na transformação do espaço de maneira a atender às necessidades dos usuários com qualidade.

sobre o autor
Coordenadora: Arq. MSc. Daniela Corcuera, LEED AP, Especialista AQUA, EDGE Expert & Auditor, USGBC ProReviewer e Coach

Daniela Corcuera, arquiteta (1994) e mestre (1999) em Arquitetura Sustentável, ambos pela FAU-USP. É consultora da IFC - Banco Mundial para difusão e alavancagem do EDGE no Brasil; Ministra diversos cursos de atualização profissional e pós-graduação, é docente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Belas Artes, FAAP, SENAC e AEA; Daniela Corcuera é LEED Accredited Professional, pelo USGBC (United States Green Building Council), com especialidade BD+C (Building Design and Construction), a primeira brasileira, e segunda da América do Sul, EDGE Expert & Auditor pelo GBCI (Green Business Certification Inc.) e formada pela Fundação Vanzolini para auditoria AQUA, todos sistemas de certificação de empreendimentos sustentáveis; É Pro Reviewer do USGBC (U.S. Green Building Council) para avaliação de cursos educacionais de educação continuada.