Até pouco tempo atrás, o arquiteto e especificador se preocupava em avaliar aspectos dos materiais e componentes de construção como: durabilidade, desempenho, aplicação, prazo de entrega e instalação, linguagem estética, preço e manutenção, dentre outros.
Mas, com o aumento da consciência ambiental da sociedade, cada vez mais, os especificadores são exigidos a fazer escolhas de materiais que agridam menos o meio ambiente. Mas será que basta um produto ter, por exemplo, conteúdo reciclado? Ou ser feito de madeira de reflorestamento? Sem dúvida, isso já é alguma coisa, mas não é suficiente para chamar um produto ou material de “sustentável”. Infelizmente, alguns fabricantes se aproveitam do desconhecimento para fazer o chamado Greenwashing (maquiagem verde), ressaltando um aspecto, às vezes, insignificante ou irrelevante do produto, induzindo o consumidor a achar que está diante de um produto sustentável.
Realizar uma Análise de Ciclo de Vida (ACV), comparando, por exemplo, dois produtos com a mesma função, é o caminho ideal para fazer a escolha adequada do produto de menor impacto ambiental. Segundo a norma ISO 14.040, uma ACV irá analisar algo em torno de 10 diferentes impactos ambientais – como aquecimento global, deterioração da camada de ozônio, esgotamento de recursos abióticos, eutrofização – ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, desde a extração da matéria prima, fabricação, transporte, utilização, até o seu descarte. Estas informações, como se vê, são muito mais criteriosas para se fazer a escolha de um produto, tanto de consumo, como da construção civil.
No entanto, o Brasil ainda está dando os primeiros passos no sentido de criar o chamado Inventário de Ciclo de Vida (ICV) para que, então, possam ser realizadas ACVs que considerem as condições brasileiras.
Certamente, em breve, poderemos fazer nossas escolhas fundamentadas em ACV, mas, infelizmente, no Brasil, o setor da construção civil é um dos mais lentos no que diz respeito à modernização.
Como não se pode esperar, arquitetos e especificadores precisam começar a cobrar dos fabricantes informações ambientais que contemplem todo o ciclo de vida do produto. Mais do que selos e certificações, informações claras e transparentes podem levar a uma especificação mais adequada, reduzindo o impacto ambiental da construção civil.
É possível que muitos fabricantes não “saibam” responder a todas às perguntas, mas será somente, assim, fazendo pressão, que o setor se tornará mais responsável e transparente.
Um questionário pode ter maior ou menor complexidade, dependendo da maturidade do fabricante, mas sugerimos as seguintes perguntas abaixo, como um início.
1.De alguma forma o seu produto reduz a demanda por recursos naturais (matérias primas virgens, água, energia)? Possui algum conteúdo reciclado?
2.Qual o consumo de energia para fabricação do seu produto (p. ex. em kWh/kg)? Qual a fonte de energia utilizada: hidrelétrica, gás, carvão, biomassa, etc?
3.Como são tratados os resíduos sólidos e líquidos, bem como, as emissões atmosféricas do processo de fabricação?
4.De qual localidade provêm os insumos principais e onde está localizada a sua fábrica?
5.A instalação do produto gera resíduos? Qual a destinação recomendada? Existe algum programa de coleta reversa?
6.O uso do seu produto consome água ou energia? Quanto?
7.Qual a durabilidade (não garantia) do seu produto? Quais as exigências de manutenção?
8.O produto tem algum material danoso ou perigoso à saúde humana (metais pesados, COVs, dioxinas, etc)?
9.Ao fim da vida útil do produto, é possível desmontá-lo para o reuso ou reciclagem? Qual o descarte recomendado? O fabricante tem programa de logística reversa?
10.A empresa é formal (tem CNPJ)? Tem Licença Ambiental? Faz uso de mão-de-obra formal?
Assim, a análise e comparação destes dados levarão o especificador a escolher produtos de modo mais consciente e menos impactante, tendo justificativas claras e bem embasadas da sua especificação. Já que materiais 100% sustentáveis ainda não existem, façamos a opção por materiais ambientalmente preferíveis.