Gestão da Logística e da Cadeia de Suprimentos em Fast Construction e na Construção

Postado em Construção ,     Escrito por Coordenador Eng. Paulo Oliveira    em público outubro 2, 2020

 

Seja na atividade de Fast-track Construction, que implica na atuação em grande volume de ações concomitantes com grande abrangência geográfica, ou em obras de construção, a Gestão da Logística e da Cadeia de Suprimentos, mais do que um fator crítico de sucesso, passa a ser um diferencial competitivo determinante, tornando o fluxo de suprimentos mais ágil e enxuto.

Enquanto a indústria, em geral, aumenta ano a ano a sua produtividade, as operações de construção, mesmo nos países mais desenvolvidos, pouco evoluíram nas últimas décadas, levando a produtividade mundial para baixo, pela forma sequencial de encarar a produção, falta de integração e, sobretudo, por não ter conseguido avançar na aplicação de métodos de produção mais modernos, mecanizados e industrializados, espelhando-se nos setores mais modernos e produtivos da indústria.

Embora seja um esforço louvável e importante, iniciativas na direção da mecanização e da industrialização da construção ainda são tímidas em nosso país. Precisamos “mudar de patamar” na gestão da logística e na integração da cadeia de valor. Os ganhos de quem investiu e adotou este caminho são consideráveis e, num mercado cada vez mais competitivo, a eficácia operacional é regra para a competitividade e para a sobrevivência.

A excelência em logística depende da aplicação constante de processos de recrutamento, seleção e treinamento de gestores e da avaliação, qualificação e homologação de fornecedores e prestadores de serviços. Por isso a Logística e a gestão da Cadeia de Suprimentos deve ser vista como parte estratégica da atividade de engenharia e construção. Conceitos, como ‘’lote econômico‘’ e ‘’logística reversa’’ são um forte embasamento para a criação de vantagens competitivas que combinadas a alianças estratégicas com fornecedores e prestadores de serviços permitem caminhar para a excelência, através de soluções eficazes eliminação de interfaces, redução de custos e de prazos e melhor sincronização da cadeira produtiva. De forma análoga aos setores mais modernos da indústria, a gestão da Logística deve levar em consideração questões relacionas à produção (logística interna) e também à Cadeia de Suprimentos (logística externa).

Um artigo publicado na Revista Mundo Logística (edição janeiro/fevereiro de 2008 e incrivelmente atual!) de Francisco Ferraes Neto remete ao ‘’alinhamento das estratégias competitivas’’ com enfoque logístico. Neste artigo são apresentadas as etapas e a evolução do papel da logística e da produção em uma organização. Pode-se dividir essa evolução em quatro etapas:

1. Pré-logística e produção tradicional – nessa fase, não há visão integrada das operações e a logística é vista como geradora de custos. Do lado produtivo, a velocidade e flexibilidade para adaptação a mudanças são baixas em decorrência de altos volumes de estoque e visão de produção ‘’empurrada’’;

2. Logística com foco operacional e empresa operando Just-in-Time – já começa a haver certa integração entre os processos e a logística é vista como facilitadora operacional, reduzindo custos internos de transação (de informações e materiais). Produtivamente há o interesse na manutenção de baixos estoques, com melhoria na flexibilidade, há mudanças e foco em redução de custos fixos;

3. Logística estratégica e produção enxuta – nessa etapa, a integração passa a ser feita interna e externamente à organização, por meio de alianças. O foco torna-se sistêmico, e a logística é prevista como geradora de receita, e não apenas redutora de custos. Na visão da produtividade, aprofunda-se na questão da agilidade e flexibilidade e redução de estoques, mas agora com uma perspectiva de agregação de valor a toda cadeia produtiva;

4. Logística como estratégia de negócio e produção enxuta com Just-in-Time II – a integração nesse ponto transcende as parcerias estratégias, com a atuação de equipes multidisciplinares entre as empresas parceiras. O enfoque logístico está na sincronização da cadeia e aumento da visibilidade de todos os elos para contrabalancear o nível de complexidade das operações. A logística torna-se fonte de lucratividade e vantagem competitiva da empresa e passa a ser considerada na definição das estratégias de negócios. Em termos de produção, observa-se a ênfase ainda mais profunda na redução de estoques em lotes unitários, de modo a permitir a customização máxima de produtos, possibilidade de entregas rápidas por meio das parcerias com fornecedores e geração de lucro.

Considerando-se estes estágios de evolução, aqueles que conhecem bem a atividade de Fast Construction, sabem que este tipo de negócio se posiciona, diferentemente do setor de construção em geral, no nível máximo de maturidade da escala citada (nível 4), ou seja: ‘’Logística como Estratégia de Negócio e Produção Enxuta com Just-in-Time II’’. Esse posicionamento é o mesmo de empresas como Dell Computers, Wal Mart e Amazon, que têm complexidade logística e grande amplitude em suas respectivas cadeias de suprimentos. A operação nesse nível tem gerado resultados expressivos para as organizações que atuam neste modelo e patamar e também para os elos da cadeia produtiva de engenharia e construção. Na tabela a seguir estão expressos os quatro níveis de maturidade citados anteriormente, a partir do artigo mencionado.

Frente a tais características da Fast Construction fica mais claro apontar seus benefícios e vantagens em comparação aos métodos tradicionais de construção:

  • A redução da ociosidade, de riscos de implementação do projeto pelo aumento da eficácia e confiabilidade dos processos construtivos, além da redução da imprevisibilidade. Isso gera aumento de produtividade;
  • A possibilidade de execução de projetos de maior nível de complexidade. A simplificação dos processos resulta em menor necessidade de planos de contingência e redução de desperdícios e resultam na melhoria da qualidade do produto final, com menor índice retrabalho.

A compreensão do valor dessas vantagens e a prática destes conceitos está diretamente relacionada à chance de satisfação do cliente, já que permite o alcance dos objetivos e metas estratégicas para seu negócio, sobretudo em se tratando de obras rápidas, realizadas simultaneamente em lotes e com grande abrangência geográfica.

A prática destes princípios, comprovadamente eficazes nos setores mais desenvolvidos da indústria e também na Fast Construction, aliada ao emprego mais amplo da Pré-Construção que tanto temos incentivado e divulgado, incluindo a gestão da Logística e da Cadeia de Suprimentos aqui discutidos – sobretudo nos Níveis 3 (Logística Estratégica) e 4 (Logística como Estratégia de Negócio) – geram o aumento significativo da produtividade e da qualidade das operações de Construção, compactando prazos e reduzindo custos, resultando em um upgrade e na redução da defasagem em relação aos demais setores da indústria.

O diagrama a seguir mostra o fluxo da Logística de Suprimento em cada etapa do Ciclo de Vida de um empreendimento (Pré-Projeto, Pré-Construção, Construção e de Pós-Construção) e a relação deste fluxo com todos os envolvidos na Cadeia de Valor. Se bem compreendido e explorado, trata-se de um bom roteiro para a implantação de melhorias e processos.

Fonte: Harker, Allcorn and Taylor, 2006

Vale lembrar que Logística não é só gerar fluxo de materiais mais ágil e enxuto. É importante compreender os processos existentes, encontrando gargalos e pontos de perda de fluidez e de produtividade, redesenhando-os com ênfase na:

  • Logística Interna (Produção);
  • Logística Externa (Cadeia de Suprimentos).

É também importante estudar os conceitos de Logística Industrial, sobretudo no que tange ao Lote Econômico e Logística Reversa. Nestas duas áreas há um amplo conjunto de estudos e análises de processos que poderão permitir, grande ganho de eficácia operacional, com maior controle do processo de abastecimento dos canteiros de obra, trabalhando com nível ideal de estoque para garantir a integridade e a fluidez da produção.

Obviamente as iniciativas em andamento para a aceleração da Construção através de startups que exploram a tecnologia e a inovação (BIM, IoT, uso inteligente de drones, scaners, modelagem 3D, realidade virtual, realidade aumentada e vários outros aplicativos e softwares de gestão e controle de projetos e da produção) estão no cardápio de oportunidades para ganho de produtividade e eficácia e devem ser explorados e implementados.

O que estamos propondo com relação a este tema é um aprofundamento para permitir a melhora de processos, que gerará ainda maiores ganhos, se combinados com a exploração da tecnologia e da inovação, conforme mencionamos. Sem este esforço pouco avançaremos nas transformações que teremos que implementar para mudarmos de patamar e atuarmos dentro de padrões de produtividade e qualidade característicos dos setores mais modernos, produtivos e rentáveis da indústria.


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O setor de construção, ao contrário da indústria, não se beneficiou da digitalização, no que tange à melhoria de processos, inovação e ganhos de produtividade. Obras com problemas de qualidade, que atrasam e geram maior custo são frequentes, afetam a imagem do setor, criam desgastes e afastam investidores.

Para solucionar estes problemas, a construção modular vem substituindo a construção tradicional com redução de prazos de até 50% e de custos de até 20% (McKinsey, 2017). Empresas modernas de construção modular exploram competências provenientes da pré-construção e da fast construction em seus processos. Isso permite maior velocidade no projeto, fabricação e montagem, além de produtos de melhor qualidade e desempenho.

Oportunidade de se atualizar e tirar dúvidas sobre Construção Modular, Pré-construção e Fast Construction.

sobre o autor
Coordenador Eng. Paulo Oliveira
  • Eng. Civil (Itajubá-MG). Pós-graduado em várias disciplinas pela POLI/USP;
  • MBA pela FIA-USP e Mestrando em Inovação na Construção pela POLI-USP;
  • Project Manager Professional (PMP) pelo PMI;
  • 20 anos como executivo e dirigente de indústrias de produtos para construção (Fosroc, Denver e Sika);
  • 15 anos como diretor de empresas de engenharia, construção e incorporação (Método, JHSF, Brookfield/TEGRA e Mutual), tendo sido CEO de Incorporações da JHSF e CEO da Mutual;
  • É professor convidado dos cursos de Mestrado do IPT, bem como de graduação e pós-graduação da FGV, Mackenzie, POLI-Integra, FAAP e Instituto ITIE;
  • Foi presidente da Associação Brasileira da Construção Industrializada (ABCI);
  • Coordenou o Comitê CT-501 do IBRACON que elaborou a norma NBR 14.050 da ABNT – Revestimentos de Alto Desempenho (RAD) para pisos;
  • Mais de 50 trabalhos técnicos publicados no Brasil e no exterior;
  • Foi conselheiro da revista Téchne e coordenador editorial das revistas Pisos Industriais e Impermeabiliza;
  • Escreve artigos sobre tecnologia, inovação, industrialização da construção e construção modular para o Buildin, Construliga, C3 – Clube da Construção Civil e Linkedin;
  • É Presidente do Conselho e Coordenador do Núcleo de Conteúdo do C3 - Clube da Construção Civil;
  • É CEO da ARATAU Construção Modular.