Por uma Arquitetura mais Sustentável – Além da “Choupana”

Postado em Sustentabilidade ,     Escrito por Coordenadora: Arq. MSc. Daniela Corcuera, LEED AP, Especialista AQUA, EDGE Expert & Auditor, USGBC ProReviewer e Coach    em público junho 9, 2015

A degradação do meio ambiente natural e as modificações climáticas atuais estão diretamente relacionadas com as atividades humanas. As noticias não param de mostrar as terríveis catástrofes naturais que têm feito inúmeras vítimas e têm arrasado territórios imensos de forma atroz. Vê‐se nisso o troco à maneira como temos cuidado dos nossos recursos naturais e do nosso planeta Terra.

O modelo econômico dos países industrializados foi questionado pela primeira vez em 1968 no chamado Clube de Roma. Em 1972, este grupo internacional de intelectuais publicou um documento combatendo o crescimento onde se defendia a necessidade de se associar a proteção à natureza com o desenvolvimento econômico. No mesmo ano, em Estocolmo, durante a reunião das Nações Unidas fez‐se a primeira reunião sobre o homem e o meio ambiente.

A primeira ministra da Noruega, a senhora Brundtland preparou um texto intitulado “Our Common Future” discutido em 1987 na 42ª reunião das Nações Unidas, no qual foi introduzido o conceito de Desenvolvimento Sustentável.

Na Eco 92, sediada no Rio de Janeiro, os chefes de estado se comprometeram a buscar juntos os caminhos para “um desenvolvimento que responda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações suprirem as necessidades de seu tempo”.

Este conceito baseia‐se em três princípios:

‐ A análise dos materiais na totalidade do seu ciclo de vida

‐ O desenvolvimento do uso de recursos naturais e energias renováveis

‐ A redução das quantidades de materiais e energia utilizados na extração dos recursos naturais, sua exploração e a destruição ou a reciclagem dos resíduos.

A noção de desenvolvimento sustentável reflete uma consciência dos riscos ambientais, mas é também um projeto de sociedade que trata de conciliar critérios ecológicos, econômicos e sociais.

Os princípios da declaração do Rio se associam a um programa de desenvolvimento para o século XXI, chamado de Agenda 21, que aconselha uma aproximação integrada e criativa na condução do Desenvolvimento Sustentável.

Com isto em vista, podemos dizer que atualmente a arquitetura precisa focar:

‐ Na durabilidade dos edifícios e dos materiais

‐ Na manutenção periódica das edificações para se aumentar a sua durabilidade

‐ Na flexibilidade dos espaços para a reciclagem dos edifícios

‐ Na redução do consumo de energia da edificação, utilizando ao máximo as formas passivas de energia (iluminação e ventilação natural)

‐ Na redução do consumo de água e geração de esgoto

‐ Na redução do uso de materiais de construção e na especificação considerando a energia neles embutida e os processos de produção

‐ Na redução da geração de resíduos sólidos

Alguns caminhos para estes pontos são:

‐ A racionalização

‐ A pré‐fabricação

‐ A automação

‐ A pré‐moldagem

‐ A construção enxuta

Vê‐se nisto que há grande tecnologia envolvida, maior tempo de projeto e menor tempo de obra.

A sustentabilidade não supõe edificações de bambu ou taipa necessariamente, fazendo‐se assim um retrocesso. Trata‐se de edificações com alta tecnologia, envolvendo equipes multi e interdisciplinares de profissionais capacitados e atualizados, com conhecimentos específicos sobre processos de produção de materiais de baixo impacto ambiental e energia embutida, sistemas de reuso e aproveitamento de águas, sistemas de monitoramento e automação, sistemas de construção racionais, sistemas de conservação de energia e reciclagem de materiais.

Muitas edificações tem sido chamadas de “ecológicas” por utilizarem sistemas construtivos primitivos e materiais naturais com baixo grau de industrialização, gerando um estilo “choupana”, porém é preciso levar em conta que apenas estes atributos não lhe conferem tal status. É preciso conhecer as condições sociais em que foram produzidos e se os sistemas de alimentação desta construção (água e energia) são sustentáveis gerando o mínimo impacto ao local de inserção.

Ainda que no Brasil não existam por hora parâmetros, sistemas de análise e certificação para a Arquitetura Sustentável, é possível nos espelharmos em modelos e experiências já desenvolvidos e antecipar a nossa atuação, indo de encontro a esta realidade do nosso planeta. Mesmo porque, a sustentabilidade plena passa por uma ideia de equilíbrio e perfeccionismo inatingíveis, uma certa utopia. Ainda assim, projetos e edificações podem ser mais, ou menos sustentáveis, criando níveis ou graus de sustentabilidade na arquitetura, tendendo a se aproximarem cada vez mais deste ideal e, portanto, contribuindo para a proteção do nosso ecossistema e sociedade.

sobre o autor
Coordenadora: Arq. MSc. Daniela Corcuera, LEED AP, Especialista AQUA, EDGE Expert & Auditor, USGBC ProReviewer e Coach

Daniela Corcuera, arquiteta (1994) e mestre (1999) em Arquitetura Sustentável, ambos pela FAU-USP. É consultora da IFC - Banco Mundial para difusão e alavancagem do EDGE no Brasil; Ministra diversos cursos de atualização profissional e pós-graduação, é docente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Belas Artes, FAAP, SENAC e AEA; Daniela Corcuera é LEED Accredited Professional, pelo USGBC (United States Green Building Council), com especialidade BD+C (Building Design and Construction), a primeira brasileira, e segunda da América do Sul, EDGE Expert & Auditor pelo GBCI (Green Business Certification Inc.) e formada pela Fundação Vanzolini para auditoria AQUA, todos sistemas de certificação de empreendimentos sustentáveis; É Pro Reviewer do USGBC (U.S. Green Building Council) para avaliação de cursos educacionais de educação continuada.